quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Reflexões 1

Por Lara de Bittencourt


Posto aqui algumas considerações do curso que participei, Movimentos do Cotidiano, que aconteceu no espaço Lume Teatro, em Barão Geraldo (Campinas – SP), no período de 1°/11 a 5/11 de 2010. O curso foi conduzido pelo Prof. Doutor Renato Ferracini. Renato é ator-pesquisador-colaborador integrante do LUME – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da UNICAMP, desenvolvendo pesquisas na codificação, sistematização e teatralização de técnicas corpóreas e vocais não-interpretativas do ator dentro de três linhas mestras de trabalho: o Clown e a Utilização Cômica do Corpo, a Mímesis Corpórea e a Dança Pessoal, além do desenvolvimento de uma metodologia de treinamento técnico-corpóreo-vocal cotidiano e a sua transmissão.

O curso Movimentos do Cotidiano dá uma idéia do treinamento cotidiano sistematizado pelos atores do LUME: reconhecimento e dilatação das capacidades expressivas do corpo. Através de uma metodologia concreta, foram experimentados temas básicos do trabalho de ator: ética (autodisciplina e autonomia); preparação e prontidão (aquecimento do corpo-mente e presença); aspectos energéticos e técnicos do ofício (transformação do peso em energia, dinâmica das ações no espaço e no tempo, articulações e segmentação corporal, modulação da energia, jogo entre atores).

O curso foi ótimo, em principio achei que poderia ficar exausta, porque esse tipo de treinamento é bastante puxado. Quando realizado com afinco, leva a uma exaustão psicofísica que, se o ator não realiza treinamento continuo, não suporta. Mas logo no primeiro dia percebi que o fato de estar praticando com continuidade a Ashtanga Vinyasa Yoga me ajudou muito no autocontrole, através da respiração e também para a resistência e persistência física. O trabalho com a Yoga, junto aos anos de treinamento de ator realizados até o momento, me oferecem um condicionamento psicofísico, em constante aplicação. Pois acredito e concordo com as palavras a Prof. Dr, Nair, com a qual tive aula na minha formação em artes cênicas: “um ator parado é um ator que regride”.

No percorrer dos exercícios fui direcionando a energia gerada para o que era pedido pelo Renato, como por exemplo: a contenção da energia para a conseguinte explosão. Percebi que conseguia usar esta energia como geradora de mais energia e assim pude modulá-la numa dança dinâmica de ações pelo e tempo e espaço da sala (estes são alguns objetivos do Sistema do LUME). O trabalho com a respiração também foi muito funcional para a busca da precisão do movimento, da prontidão e presença cênica. Onde o corpo-mente se encontram em um estado de atenção capaz de reagir a um mínimo movimento interno e/ou externo, vindo dos outros atores ou gerados pelo fluxo do meu próprio movimento, um exemplo: como reação aos sons naturais da pacata Barão Geraldo, ou seja qualquer gerador de reações, sensações, impressões capturadas de maneira orgânica.

O curso Movimentos do Cotidiano tem como objetivo final a codificação de ações físicas e vocais do cotidiano, obtidas pelo ator através de sua observação. No curso cada ator escolheu para observar duas figuras: uma abstrata e uma de um ser humano. Através da condução realizada pelo Renato, trabalhamos a vetorização aplicada no corpo do ator. Esta vetorização foi instrumento para nós, os alunos, na posterior corporificação e imitação das figuras observadas. Era um grupo muito bom de atores, todos empenhados a se doar ao máximo. Aliás, cada vez mais comprovo, que para mim, teatro em grupo é o que há de melhor. Então, a todos que curtem teatro da melhor qualidade, que acreditam que trabalho é o que leva a qualidade e não o talento. Eu indico o curso Movimentos do Cotidiano.

TEXTO DE LARA DE BITTENCOURT - 18/01/2010

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